Entrego minha alma ao céu de abril e à rebeldia.
(Bandeira Tribuzzi)
Joziel, igual a outros tantos homens,
nunca pensou em ser notícia de jornal:
apenas sobreviver e tentar a felicidade
nesse enigma inquieto chamado vida.
É verdade que Joziel foi deveras imprudente
ao deixar Bacabal, aos 23 anos, sem emprego,
com a 4ª série incompleta, com sete irmãos
e sem o dinheiro da passagem até Brasília.
Mas Joziel desobedeceu à lógica e decidiu sonhar:
desembarcou na capital federal com a mala surrada
e a identidade provando que era cidadão brasileiro.
(passou a morar com o primo Argemilton
em um barraco alugado em Samambaia)
Vigiando carros de dia, vendendo rosas à noite,
Joziel estava feliz e admirava as luzes de Brasília.
Numa invasão atrás do hospital Anchieta,
na QNC14 em Taguatinga, ergueu barraco
e pensou em trazer a mãe para o natal
naquela invasão à beira de um córrego.
Numa tarde embrulhada em azul e brisa
Joziel se deparou com estranho artefato
(e como tudo na sua vida era improviso
o artefato serviu de inesperado martelo).
Mas o artefato não era um martelo:
era uma bomba.
(Do barraco sobraram pedaços de madeira.
De Joziel, a identidade e o lençol encardido
que cobriu seu corpo e a história do rapaz
que acreditou no sonho da dignidade.
Nada mais: absolutamente nada mais
– lamentou o jornalista Tarciano Ricardo,
do Correio Braziliense)
Como pode perceber o público e a crítica,
isso não é ainda – de modo algum – poesia:
só a triste história de Joziel Xavier Azevedo,
uma das tantas versões do povo brasileiro.