Poemas

FAIXA DE GAZA. EPIGRAMAS

ETERNOS ESQUECIDOS ─ Por que você escreve poesia social? ─ Não consigo esquecer dos esquecidos. JUDICIÁRIO E MÍDIA Os juízes também não conseguem renunciar aos seus 15 minutos de fama. À LUZ DO SOL ─ Engraçado, sou leitor de poesia e confesso que não lhe conhecia. ─ Nada de novo sobre a Terra: a poesia se esconde à luz do […]

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BEATRIZ. EPIGRAMAS

CONHECE A SI MESMO O poeta não é um homem comum, porque sabe que é um homem comum. CONSELHO AXIAL Seja como for, seja por onde for, seja flor. AUTÊNTICO Todos fazem promessa de mudança de vida no dia 31 de dezembro. Eu confesso ser mais autêntico: a cada dia 01 de janeiro prometo que no próximo ano serei completamente […]

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LIVRO DA SABEDORIA E OUTROS EPIGRAMAS

LINGUAGEM: O SENTIDO DO MUNDO Na natureza a pedra é somente pedra. Acontece que os poetas descobriram que a pedra pode ser obstáculo ou resistência. Aos loucos comuns foi proibido atirar pedras. Aos poetas, por serem metaloucos, ficou consentido atirá-las, pois o fazem com sentido e, por vezes, com o humor dos trocadilhos. DA INCOMPATIBILIDADE ABSOLUTA Os ditadores odeiam poesia, […]

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PARADIGMA

Vendedores de ilusão proliferam conectados e te mostram o paradigma do novo século. Vitaminas te prometem ser eterno jovem, mas incapazes de elidir teu antigo rancor. Na ginástica não precisas roubar da máquina: toda parafernália trabalha independente de ti. Esperas, ainda, o novo século na geopolítica, nas relações multilaterais e na cosmética. No cinema teu filho ri do vagabundo; Charlie […]

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VERSOS DE TABULETA

CONSELHO AOS HOMENS A vida é curta para se entender uma mulher: por que não simplesmente amá-la? CULTIVAR ENIGMAS Amar é cultivar um enigma e todas as suas derivadas. CONCLUSÃO (…) sem enigma a poesia não respira (…) CAVALHEIRO Quando escrever a uma mulher (mesmo um memorando) te mostra apaixonado, mas de tal modo, que ela não perceba. FRASE SOLTA […]

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TEX

Nesta tarde de 03 de janeiro de 2023 debaixo do sol dos trópicos em Recife, na banca do Jesus, no Derby Center, a revista do Tex (uma edição compilada) causou uma explosão digna da supernova em louca fusão nuclear em fachos de luz de lembrança alucinada e feroz saudade. Nesta tarde, logo devorada pelo tempo, outra tarde dormindo se alumiou […]

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INOPORTUNO

PARA UM VERSO QUE SE PERDEU (…) perdeu-se nas brumas do esquecimento a cintilar na galáxia de outro poeta (…) PRAZER DE GARIMPEIRO Ler poetas irregulares tem um prazer adicional: o deleite dos garimpeiros. POÉTICA FORENSE A poesia precisa frequentar os tribunais para que a norma não se perca da vida, onde lampejam os sonhos. GÊNESE ANTROPOLÓGICA DO BRASILEIRO A […]

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ESTRANHEZA

(a Kelson Veras)                                                     Um astro anão amarelo-fogo de 4,5 bilhões de anos, de 15,7 milhões de graus Celsius, de hélio e nitrogênio, rasga uma vez mais essa manhã diante de teus olhos: a uma distância de 150.000.000 de km desse planeta tendo a circunferência de 4,3 milhões de quilômetros, o […]

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NATAL

A cidade inteira se acende em ruas e avenidas, as mulheres enfeitam de luzes suas moradas e os olhos das crianças brilham mais intenso. Haverá, então, uma festa em grande celebração. A reunião em torno de presentes e vinhos: a família está eufórica, conversas animadas entrecortadas por sorrisos, brindes, fotos, doces e música, porque enfim é natal, mas não ainda […]

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COTIDIANO DA PROVÍNCIA

José Ribamar, maranhense de nascimento e coração entra na rua em vão: passa pelo mesmo tocador de pífano, cego do mesmo olho, encostado à esquina do mesmo sobrado cuja fachada dos mesmos azulejos lusitanos. Em tarde de poucas nuvens, José Ribamar casou com Maria Antônia (dali a 10 meses nascia José Ribamar Jr.) José Ribamar Jr, maranhense de nome e […]

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PASSAMENTO

O poeta vai deixar: amigos, livros, sonhos, a madrugada solitária. Esta sua última noite no mundo e não é mais possível o verso nem a namorada, nem as flores: a revolução juvenil, os movimentos literários que se perderam nos bares ou na lógica mais estéril (eram tantos sonhos a iluminar a vida). Agora a morte não é só palavra, transfiguração […]

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DESCOBERTA

Saber mesmo quem sou, não sei e é isso que procuro desesperadamente por entre retratos, livros, rostos, cheiros e histórias (meus avós morreram e tantos parentes ), não tive irmãos: sobraram esses olhos melancólicos essas mãos vazias e esse gosto pelo silêncio que compõem uma imagem de angústia no espelho. Agrego vocativos: doutor, professor, poeta. – aos quais respondo sem […]

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ÁFRICA

Toda essa costa sinuosa dessa negra sensual bem se acopla ao litoral da América do Sul, não fosse a solidão do Atlântico de permeio em dores dilaceradas de nações inteiras. Nem o ouro de Gana, todo Bilad al-Sudan e o império do Mali (do deserto ao oceano) valeria desafiar o mar tenebroso e monstros fazendo tremer toda descendência lusitana. Mas […]

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ESQUINA

Engenheiro Couto Fernandes, arremedo de rua: seis casas e meu mundo e o velho casario encobrindo a lua. Tantos sonhos por lá ficaram dormindo ─ que é próprio dos sonhos dormir ─ Nunca se sonha completamente acordado: e agora que volto a esta esquina tanto anos depois os reencontro, muito embora tantos desistiram e morreram dormindo como anjos: não suportaram […]

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POLÍTICA. EPIGRAMAS

CIÊNCIA POLÍTICA Os livros de ficção científica não me empolgam: talvez por que sempre fui leitor de ciência política. JUSTIFICATIVA ─ Com a tua popularidade, por que não te candidatas? ─ É que fui reprovado em teste para ator. ETERNIDADE Foi um período de breve (sic) ditadura. COTIDIANO E ARBÍTRIO Nas ditaduras não há gavetas. DESUMANO Nas democracias, o eleitor […]

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UM PAÍS

Uma fuligem foi embaçando a beleza; uma crosta na retina cegando o povo – logo se viu um país irreconhecível com ídolos ocos e sem horizontes (havia tanta identidade nessa gente). Aonde anda o bruxo do Cosme Velho mais conhecido por Machado de Assis que tinha por ofício coser entrelinhas de fina ironia ao se ocupar do humano? (Harold Bloom […]

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SENTIDO DA EXISTÊNCIA E OUTROS EPIGRAMAS

SENTIDO DA EXISTÊNCIA Pouco importa ser poeta – o fundamental é ser poesia. RESPOSTA DE UM JOVEM POETA ─ Então você quer ser poeta? Primeiro é preciso viver. ─ Viver?…é muito complicado. Não é mais fácil ser poeta? DE REPENTE OLHEI PELA JANELA (…) e a luz espessa da manhã se derramava em brisa sobre a cidade (…) e todos […]

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O ANJO TITA

Vida, descortinar feérico a desafiar nossos limites (carente, pendente, frágil – a poesia e o humano): – aqui estamos estendendo as nossas cálidas mãos a encontrar outras mãos inseguras, gélidas ou cálidas a buscarem nossas mãos frias, vacilantes e solitárias até que todas as mãos se tornem cálidas ao coração. Felicidade, engenho a se reinventar na arte de viver: viver […]

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AS INTÉRPRETES

Escrevi um epigrama intitulado Algumas inutilidades com o seguinte conteúdo: “Na última faxina encontrei algumas inutilidades: a) carteira de trabalho; b) título de eleitor; e c) um toco de vela”. A minha intenção era bem prosaica: tentei me referir ao desemprego, à minha falta de opção política, igualando a carteira de trabalho e o título de eleitor a um objeto […]

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BUSCA

É necessário algo que mova tudo isso, essa engrenagem enorme a que se chama mundo, e na qual estamos jogados, submersos, imersos em flocos de nuvens, por vezes cinza, triturados pelo relógio, a avenida, o salário – ausentes de nós mesmos – nas promoções dos shoppings mais diversos: a minha, a tua, a vida de Antônio e a de Maria. […]

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ALGUMAS INUTILIDADES

ALGUMAS INUTILIDADES                            a Myllena Lima Falcão Na última faxina encontrei algumas inutilidades: a) carteira de trabalho; b) título de eleitor; c) um toco de vela. ORIGINALIDADE A originalidade resulta de uma trama bem urdida do plágio. SAUDAÇÕES De duas maneiras sou saudado. Uma em qualquer parte do […]

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COISAS QUE CALAM

O que perece flutua no eterno onde faz silêncio e por isso quem morre é teu vizinho indiferente, o parente muito distante: um homem desconhecido que morava no Méier (que antes de morrer, matou a mulher e o amante é só uma notícia de jornal tão distante de tua vida) A morte, um fantasma que habita nos outros, parece impermeável […]

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CONTRADITÓRIO E OUTROS EPIGRAMAS

EUFEMISMO A mentira, por vezes, é delicada como um cristal. OXIGÊNIO Sem sonho a realidade morre asfixiada. DISCÍPULO Se Albert Einstein, que era um gênio, dormia 10 horas por dia, devo necessitar ao menos do dobro desse tempo. SÁBIO CONSELHEIRO Escute sempre o silêncio, ele sabe calar os idiotas. CARNE VIVA Quando me ler, cuidado: estou em carne viva. DESPERDÍCIO […]

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RECORDAÇÃO

Tanta coisa extravia a existência e um dia se perde à eternidade: assim o relógio repete a hora, assim o homem no peitoril, a mulher esquecida na sala. As coisas ao redor nasceram para a morte e soluçam ao ver tanto azul desperdiçado. Veja o dia: esplêndido e vigoroso irá morrer: e ao morrer oferta o crepúsculo em vão. O […]

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NO BAR

Ainda era manhã e os homens começaram a beber. No bar, os homens bebiam e a tarde seguia seu curso, enquanto o relógio funcionava sem questionar as horas e o porquê das coisas. No bar, os homens não viram a noite chegar e servir – de bandeja, a lua – enorme esfera cintilante gritando em amarelo por Van Gogh. No […]

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EPIGRAMAS: ESPLENDOR DA BRUTALIDADE

PARAÍSO DESOLADO Os humanos fazem a guerra e depois da terra desolada se dedicam à poesia. Sem demora voltam à guerra. Não há dúvida: o destino humano é se perder do paraíso. A BANALIDADE POR VEZES É SONHO Hoje, dia 01.04.2022, todos os habitantes da Ucrânia sonham apenas estar em casa e em paz. TEMPOS SOMBRIOS Há tanto ódio no […]

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NASCIMENTO

Em pétalas de silêncio, rebentando o mistério vim à luz. O choro do recém-nascido, canto de esperança, se fez música atravessando a noite. Logo veio a manhã de novembro e sol: o céu luzia no ordinário dos dias às margens do rio Mearim, em Bacabal. Todos se moviam nos mecanismos prosaicos do existir e o nascimento de um menino franzino […]

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DIÁLOGO ENTRE FOFOQUEIROS ERUDITOS E OTUROS EPIGRAMAS

DIÁLOGO ENTRE FOFOQUEIROS ERUDITOS — Mas, afinal, me diga: quem foi Shakespeare? — Isso dou de barato. E quem foi Homero? HIPERBOLE Basta uma faísca e o poeta ver um vulcão. CARTA DO SUICIDA ARREPENDIDO Ainda bem que existem as crianças e os loucos. POEMA DO SUSPIRO Ah, vida! LUAR NO TERREIRO DA FAZENDA Eita, João, a lua tem a […]

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PARTILHA

Dalí, na cesta de pão, fez a partilha (um quadro com o puro do simples): ali recitou Cristo e o novo testamento sem intentar rituais ou outros dogmas (bastou um gesto terno tal o trigo para alimentar os famintos de vida). Dalí não invocou qualquer teologia: a arte se fez teologia em puro objeto, – a mística da eucaristia no […]

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AMOR ALÉM DA FLOR

Não peço que não me esqueças, seria pedir demais – demasiado: peço que não esqueças de lembrar que não te esqueci ou esquecerei: lembrar é sempre desatar sem fim é misturar os tempos e os mundos, eterno que habita no inconsciente que flana, voa e não pousa nunca – deseja colorir carências e verdades, pois a vida necessita do incompleto: […]

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